dietrich_bonhoefferLeia: Filipenses 1.12-14,27-30

Na véspera do Natal de 1943, no canto de uma das celas do presídio Berlim-Tegel, em Berlim, o pastor Dietrich Bonhoeffer escreve uma carta para os seus amigos Eberhar e Renate Bethge. São tempos sombrios sobre a Alemanha, a violência da Gestapo, a decadência do nazismo, bombas caindo sobre a cidade de Berlim. “Já não acredito na minha soltura”, ele escreve. Na carta, Dietrich fala daqueles tempos como dias de separação, e “não há nada que nos possa substituir a presença de um ente querido e nem devemos tentar substituí-lo. Cabe-nos simplesmente suportar”. Para complicar as coisas, “quanto mais belas e mais ricas as recordações, tanto mais dura a separação”. Entretanto, ele também afirma que a separação pode produzir uma comunhão até mais forte.
Ora, como viver a alegria dos evangelhos em tempos de apocalipse? O pastor Dietrich até comenta que, ali na prisão, os presos detestavam ouvir os hinos de Natal, pois tornava a situação ainda mais insuportável. O contraste era tão grande, que fazia os prisioneiros mergulhar “num estado miserável de tristeza, de modo que o dia lhes pesa ainda mais”. Melhor seria que, em lugar do sentimentalismo e das músicas nostálgicas, houvesse uma boa pregação ou uma palavra pessoal.
Sim, nem todos vivem o Natal em conforto, fartura ou liberdade. Para muitos, o Natal é mesmo tempo de tristeza e depressão, de solidão profunda e separação. Em tempos assim vale ouvir de novo a mensagem de esperança de Deus a um mundo perdido, o conforto da sua presença ao nosso lado. Natal é tempo de oração pelos que sofrem neste mundo agitado e confuso, é tempo de uma boa e franca conversa pessoal, humana, cheia de afeto e verdade. É também tempo se ouvir uma boa e honesta pregação, como diria Dietrich Bonhoeffer.
“A cela de uma prisão, em que alguém aguarda, espera e se torna completamente dependente do fato de que a porta da liberdade tem que ser aberta por fora, torna-se cenário ideal para o Advento”, escreve Bonhoeffer, pois para ele o aspecto mais importante do Advento é que ele nos propõe uma esperança de libertação. “Você quer ser liberto? Esta é a única questão realmente importante e decisiva que o Advento nos propõe”.
Este tempo de preparação para o Natal, este Advento, é tempo propício para a reflexão e para a tomada de atitude. Há que se olhar para o alto, há que se seguir adiante.
Certa vez perguntaram a Leon Gieco, cantor argentino que viveu os tempos difíceis de ditadura militar e perseguição política, como estava, e ele respondeu em forma de canção: “Sobrevivendo. Sobrevivendo”. Diante das ameaças pendentes à vida, como nos tempos na II Guerra na Europa ou especificamente do nazismo na Alemanha, sobreviver já é uma grande façanha.
Contudo, o que o Advento nos propõe é mais que sobrevivência, é vida plena e digna.
Ouça a canção que fiz em memória a Dietrich Bonhoeffer, “Resistência ou submissão”. Medite. Ore. Compartilhe. Acompanha-me o amigo Tiago Vianna: http://www.youtube.com/watch?v=W9Io0zqkVAQ
Tem também esta versão com Fernando Merlino: http://www.youtube.com/watch?v=TXJrplbvRcQ
Gladir Cabral